Eram quase 3h da manhã de um sábado. Você estava no bar com seus amigos, enquanto eu estudava um soneto de Shakespeare. Vocês falavam de mulheres e bebiam, enquanto eu recitava as palavras mais delicadas. Já eram quase 5h quando você chegou em casa com o suéter azul que te dei de aniversário amassado, os sapatos marrons sujos de lama e cheirando a palheiro velho com cachaça. Não falei nada. Você então se deitou ao meu lado sem fazer barulho para não me acordar. Como era de costume, eu acordava às 8h e logo você vinha atrás. Sentávamos na mesa de madeira na cozinha e tomávamos um café passado na hora. Mas naquela manhã foi diferente. Você não levantou. De início não dei muita importância, mas depois me chateie. Comecei então a colocar a roupa no varal e a fazer o almoço. E você nada de levantar. Aquilo era estranho, pois era quase 10h, mas deixei. Então, tive que almoçar sozinha e passar o resto da tarde assim também.Você foi levantar eram 17h e veio reclamar que eu não te chamei - mas você detestava quando te chamava e ficava de mau humor - e tudo o que eu não queria era brigar com você, mas isso estava acontecendo neste momento. Você então saiu sem nem me dizer se voltava para o jantar. Agora o relógio marcava 20h. Sempre nessa hora jantávamos. Menos essa noite e em todas as outras que se seguiram depois desse dia.
As pessoas acham que escrever é simplesmente pegar as palavras e as colocar numa frase e a fazer elas terem sentido, quando na verdade, é algo muito amplo. Escrever exige observação, pensamento, conhecimento da língua a ser retratada e amor. Sim amor pela fala, pela oratória, pelo papel e pela literatura. Escrever é retirar do vento as palavras que ninguém mais quer, e as organizar, observando não apenas as normas da língua padrão, como concordância, verbo, provérbio, advérbio, e por ai vai, e sim as organizar por ordem de importância e sentido. Escrever, é se doar de corpo e alma, é se entregar, se perder nas letras e se achar no parágrafo seguinte. É se encantar a cada palavra e se emocionar a cada vírgula; é se apaixonar a cada novo texto. A cada dia que passa me apaixono mais por esse mundo literário e me assumo cada vez mais como escritora, não tenho medo do que podem dize ou pensar, como escritora tem que assumir uma postura e como jornalista, assume a mesma postura.
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