Passávamos os dias de verão inteiros juntos. E como consequência, brigávamos direto. Em uma de nossas brigas, eu quis sair daquele lugar para sempre e não voltar mais a vê-lo, mas sabia que seria impossível, pois eu o amava demais para aquilo. E em mais uma briga fiquei e aguentei as palavras que saiam grosseiramente de sua boca. Quando eu acordei às 6 horas, você já não estava mais ali e uma carta. Eu te procurei pela casa inteira e apenas pude encontrar seu cheiro preso a um pedaço de papel com os documentos do Exército. Sim, você foi chamado. Imediatamente, eu corri atrás de você, pois sabia que se fosse, não ia te ver nunca mais e por um instante, era o que eu deseja. Ao chegar naquela sala escura da plataforma do metrô na parte oeste da cidade, te vi fardado e tudo o que conseguia pensar, era em fazer você ficar mais um dia, mas não queria mais brigar. Não sei se você me viu chorar, mas eu fiquei ali no canto te vendo embarcar naquele trem de metal número 394. Você sentou nas últimas janelas e te vi olhar para baixo. Você tirou o quepe e beijou a medalha de Nossa Senhora que te dei para sua proteção. Depois daquele dia, nunca mais te vi. Sua carta guardo em uma caixa até hoje.
As pessoas acham que escrever é simplesmente pegar as palavras e as colocar numa frase e a fazer elas terem sentido, quando na verdade, é algo muito amplo. Escrever exige observação, pensamento, conhecimento da língua a ser retratada e amor. Sim amor pela fala, pela oratória, pelo papel e pela literatura. Escrever é retirar do vento as palavras que ninguém mais quer, e as organizar, observando não apenas as normas da língua padrão, como concordância, verbo, provérbio, advérbio, e por ai vai, e sim as organizar por ordem de importância e sentido. Escrever, é se doar de corpo e alma, é se entregar, se perder nas letras e se achar no parágrafo seguinte. É se encantar a cada palavra e se emocionar a cada vírgula; é se apaixonar a cada novo texto. A cada dia que passa me apaixono mais por esse mundo literário e me assumo cada vez mais como escritora, não tenho medo do que podem dize ou pensar, como escritora tem que assumir uma postura e como jornalista, assume a mesma postura.
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