Ela chorava. Chorava baixinho. Chorava antes de dormir e ao
acordar. Chorava toda noite em sua cama. E por que ela chorava? Ela chorava,
porque sabia que ia lhe perder, mais cedo ou mais tarde, mas ia perder. Você
vinha pra casa toda noite às 0h cheirando a conhaque venho e palheiro de
cigarro do boteco da esquina e com a camisa azul que ela havia lhe dado de
natal com marca de batom vermelho. Toda noite. Essa era uma cena que se repetia
por dias, semanas e meses. Todo mundo a aconselhou a sair de casa, pois ela era
uma moça jovem, de pele morena, cabelo escuro e olhos verdes, uma beldade em
pessoa. Era o sonho de qualquer homem. E o que ela fez? Ficava. E mais uma
noite ela chorava. E no meio do choro, adormecia feito um anjo. Era um anjo
machucado. Um anjo que todos queriam cuidar, menos você. Um anjo doce. Um dia,
mesmo com o coração partido em pedaços e os olhos cheios de lágrimas, ela fez
uma carta, deixou em cima da mesa junto ao leite com bolacha que ele tomava
antes de ir se deitar e foi-se embora. Na carta estava escrito: “Meu amor, eu te amo. E é com tristeza que
lhe escrevo essa carta. Quando você chegar em casa, o último copo de leite
estará lhe esperando essa hora, pois eu, estou indo embora. Cansei de lhe
esperar todas as noites e você com cheiro de conhaque e palheiro e marca de
batom na camisa. Aposto que nem ouve a música que toca toda vez que entra no
quarto. Era a nossa música que eu ouvia antes de dormir. Adeus”. Ele,
arrependido do que fez, saiu a sua procura. Bateu de porta em porta. Gritou seu
nome no meio da rua e foi em todos os lugares que há havia levado. E a achou.
Sentada num tronco de árvore com uma foto do casal que eram antes dele começar
a beber e a esquecer. Ele se aproximou e a abraçou. O silêncio tomou conta em
mais uma noite. Para ela, era comum o silêncio da noite, mas para ele, foi algo
agoniante no peito. Ele secou suas lágrimas e o beijou. Há tempo que ela não
sentia o gosto daquele beijo. A partir daquele momento, suas lágrimas se
transforam em sorrisos. Sorrisos que hoje alegram a vida deles. Ele parou de
frequentar o bar da esquina, e ela parou de chorar. Eles passaram a viver como
casal.
As pessoas acham que escrever é simplesmente pegar as palavras e as colocar numa frase e a fazer elas terem sentido, quando na verdade, é algo muito amplo. Escrever exige observação, pensamento, conhecimento da língua a ser retratada e amor. Sim amor pela fala, pela oratória, pelo papel e pela literatura. Escrever é retirar do vento as palavras que ninguém mais quer, e as organizar, observando não apenas as normas da língua padrão, como concordância, verbo, provérbio, advérbio, e por ai vai, e sim as organizar por ordem de importância e sentido. Escrever, é se doar de corpo e alma, é se entregar, se perder nas letras e se achar no parágrafo seguinte. É se encantar a cada palavra e se emocionar a cada vírgula; é se apaixonar a cada novo texto. A cada dia que passa me apaixono mais por esse mundo literário e me assumo cada vez mais como escritora, não tenho medo do que podem dize ou pensar, como escritora tem que assumir uma postura e como jornalista, assume a mesma postura.
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