E então eu morri sem que ninguém me
conhecesse, sem que algo me fizesse sentir vivo. Morri como morre
todo ser de desgosto pela humanidade. Meu corpo continua
caminhando sem propósito, sem rumo esperando que algo o atinja
e o tire desse limbo. Pode ser uma alma, uma flor, um amor ou mesmo uma
palavra. Sim, uma palavra. Eu nem sabia rimar quando as minhas palavras
sentiram necessidade de se eternizarem no papel. Minhas mãos eram trêmulas,
como as do meu avô. Talvez por achar a minha alma mais velha que a dele, o meu
corpo, mesmo sem querer, o imitava. Mas eu só tinha dezoito - pelo menos era
assim que trazia escrito a minha certidão de nascimento -, e eu ainda não
conhecia tantas palavras. Meu forte sempre foi o silêncio. Nas margens do meu
caderno, vários rabiscos daquilo que se passava na minha mente quando eu perdia
o foco, ou enquanto eu tentava buscar palavras que tivessem um significado
próximo ao peso das minhas lágrimas. Quase sempre em vão, por isso eu sempre
tinha um pouco para chorar antes de dormir. Era rotineiro: palavras no papel,
ou lágrimas no travesseiro. Alguns anos se passaram, conheci algumas palavras e
esqueci outras - eram pequenas demais para o tamanho do que eu sentia. Hoje
moro sozinho, e o meu primeiro caderno permanece na casa onde morei, no meu
armário, na última gaveta, trancada. Não sei se tenho coragem de ler, e então
perceber que eu era mais feliz quando chorava. Hoje, disfarço melhor
minhas dores. As palavras às vezes somem de minha boca e de minha mente, e fica
difícil dizer o que sinto. Sempre fui quieto, com uma mente barulhenta e um
coração inquieto. Palavras. Era tudo o que me restava.
As pessoas acham que escrever é simplesmente pegar as palavras e as colocar numa frase e a fazer elas terem sentido, quando na verdade, é algo muito amplo. Escrever exige observação, pensamento, conhecimento da língua a ser retratada e amor. Sim amor pela fala, pela oratória, pelo papel e pela literatura. Escrever é retirar do vento as palavras que ninguém mais quer, e as organizar, observando não apenas as normas da língua padrão, como concordância, verbo, provérbio, advérbio, e por ai vai, e sim as organizar por ordem de importância e sentido. Escrever, é se doar de corpo e alma, é se entregar, se perder nas letras e se achar no parágrafo seguinte. É se encantar a cada palavra e se emocionar a cada vírgula; é se apaixonar a cada novo texto. A cada dia que passa me apaixono mais por esse mundo literário e me assumo cada vez mais como escritora, não tenho medo do que podem dize ou pensar, como escritora tem que assumir uma postura e como jornalista, assume a mesma postura.
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