De uns tempos pra cá, tenho acordada no susto. Sempre com a estranha sensação de estar atrassada para um compromisso que não existe. Sempre com aquela angústia desnecessária de estar devendo ao mundo um poema que nunca será escrito. Coloco meus óculos e confirmo nitidamente que não tenho realmente nada agendado para os próximos dias. Devo estar atrassada comigo, com meu passado. Alguma saudade que eu deixei pra trás está cobrando minha companhia, como se fosse um chope ou uma dúzia de bolinhos que eu deixei penturada em algum bar predileto. Devo estar me preocupando demais com pequenos detalhes, com coisas insignificantes e sem valor. Me sinto pressionada devio esse poema que devo não ao mundo, mas à mim; pressionada em relação as minhas expectativas em relação a mim mesmo, meus textos e seus mistérios. De uns tempos pra cá, ando pensativa demais, e me apego a detalhes bobos, ando sentimental e assustada. De uns tempos pra cá, não escrevo mais poemas.
As pessoas acham que escrever é simplesmente pegar as palavras e as colocar numa frase e a fazer elas terem sentido, quando na verdade, é algo muito amplo. Escrever exige observação, pensamento, conhecimento da língua a ser retratada e amor. Sim amor pela fala, pela oratória, pelo papel e pela literatura. Escrever é retirar do vento as palavras que ninguém mais quer, e as organizar, observando não apenas as normas da língua padrão, como concordância, verbo, provérbio, advérbio, e por ai vai, e sim as organizar por ordem de importância e sentido. Escrever, é se doar de corpo e alma, é se entregar, se perder nas letras e se achar no parágrafo seguinte. É se encantar a cada palavra e se emocionar a cada vírgula; é se apaixonar a cada novo texto. A cada dia que passa me apaixono mais por esse mundo literário e me assumo cada vez mais como escritora, não tenho medo do que podem dize ou pensar, como escritora tem que assumir uma postura e como jornalista, assume a mesma postura.
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